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 > 7 Março 2005 | Tarde

“Independência total como uma realidade estática e perfeita não existe”

 

A censura de lápis azul terminou há muito. No entanto, existem actualmente outras formas de condicionamento. O profissional tem de saber lidar com as pressões naturais do ofício e reger-se pelas regras deontológicas. O jornalista deve assumir um compromisso ético para com o público.

   “A mordaça que hoje existe no jornalismo é imposta pela classe política, pelo sistema judicial e pelo poder económico”. Foi com esta afirmação que o jornalista Manso Preto iniciou a sua exposição no 1º painel do 4º Encontro de Comunicação sobre o tema “Media: Censurados ou independentes?”. Contando o que viveu em 2004, quando foi alvo de um processo judicial por se ter recusado a revelar uma fonte, o jornalista freelancer considera ter sido censurado. E apesar de se falar em democracia e liberdade, “há pessoas que hoje usam métodos [censura] de antigamente”, sustenta. Caso tivesse revelado a fonte o jornalista afirma que “as portas fechavam-se e era rotulado de o denunciante”. “Estaria queimado profissionalmente”, conclui.

   Pela primeira vez em Portugal um profissional foi condenado a 11 meses de prisão com três anos de pena suspensa. Manso Preto confessa já não ter motivação para a prática jornalística e ter medo daquilo que escreve.

   Segundo a directora do jornal “O independente”, Inês Serra Lopes, a independência que os órgãos de comunicação tentam transmitir não existe. Para a directora, a independência “é um conceito mítico”. Acrescenta ainda que a liberdade é mais importante que a independência. Neste contexto afirma que conhece mais jornalistas independentes do que livres. Mas para Inês Serra Lopes o profissional da comunicação tem de fazer-se respeitar. Há pressões naturais com as quais os jornalistas têm que saber lidar. E se antigamente essa pressão era mais do poder político, “actualmente o condicionamento económico é mais forte”, assegura, referindo ainda que “os políticos aprenderam a lidar com os media”.

   O representante do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, Francisco de Vasconcelos, sustenta que nunca se conseguirá alcançar a independência que se reclama. A conjuntura económica existente – com poucos grupos económicos e com a necessidade de obter lucro – leva a que não haja uma real e estática independência.  

   A autonomia económica dos órgãos de comunicação é uma mais valia para a sua própria independência, sublinha Francisco de Vasconcelos. Este argumenta ainda que “a pior coisa que podia acontecer aos governos, era que a RTP passasse a dar lucro sistematicamente!”.

   Para Jorge Lacão, do Partido Socialista, “não faz sentido ter-se um serviço público que permita formar uma opinião pública nacional se depois temos um poder político que não garante a independência desse mesmo serviço”. O representante do PS, de encontro à posição de Manso Preto, e em virtude do processo judicial em que este jornalista foi arguido e condenado, afirmou que o actual segredo de justiça “deve ser revisto”. E que tal segredo só deve abranger quem esteja em contacto directo com o processo. No entanto, a não revelação de uma fonte jornalística não pode ser um camuflado para atingir outras pessoas, declarou.

   Pedro Marques, em representação do Partido Social-Democrata, denuncia que “haverá sempre poder político a tentar manipular para proveito próprio a comunicação social”. E acrescentou que nos meios pequenos a dependência dos media face ao poder político é maior. Os jornais locais para sobreviverem recorrem muitas vezes às autarquias, o que faz transparecer uma menor autonomia.

A Independência é "um conceito mítico"

Fotografia: Francisco Mendes

“A mordaça que hoje existe no jornalismo é imposta pela classe política, pelo sistema judicial e pelo poder económico”

 

    Eliana Cristóvão |Luís Sirgado | Vera Inácio

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