A censura de
lápis azul terminou há muito. No entanto, existem actualmente
outras formas de condicionamento. O profissional tem de saber
lidar com as pressões naturais do ofício e reger-se pelas regras
deontológicas. O jornalista deve assumir um compromisso ético
para com o público.
“A mordaça que hoje
existe no jornalismo é imposta pela classe política, pelo
sistema judicial e pelo poder económico”. Foi com esta afirmação
que o jornalista Manso Preto iniciou a sua exposição no 1º
painel do 4º Encontro de Comunicação sobre o tema “Media:
Censurados ou independentes?”. Contando o que viveu em 2004,
quando foi alvo de um processo judicial por se ter recusado a
revelar uma fonte, o jornalista freelancer considera ter sido
censurado. E apesar de se falar em democracia e liberdade, “há
pessoas que hoje usam métodos [censura] de antigamente”,
sustenta. Caso tivesse revelado a fonte o jornalista afirma que
“as portas fechavam-se e era rotulado de o denunciante”.
“Estaria queimado profissionalmente”, conclui.
Pela primeira vez em
Portugal um profissional foi condenado a 11 meses de prisão com
três anos de pena suspensa. Manso Preto confessa já não ter
motivação para a prática jornalística e ter medo daquilo que
escreve.
Segundo a directora
do jornal “O independente”, Inês Serra Lopes, a independência
que os órgãos de comunicação tentam transmitir não existe. Para
a directora, a independência “é um conceito mítico”. Acrescenta
ainda que a liberdade é mais importante que a independência.
Neste contexto afirma que conhece mais jornalistas independentes
do que livres. Mas para Inês Serra Lopes o profissional da
comunicação tem de fazer-se respeitar. Há pressões naturais com
as quais os jornalistas têm que saber lidar. E se antigamente
essa pressão era mais do poder político, “actualmente o
condicionamento económico é mais forte”, assegura, referindo
ainda que “os políticos aprenderam a lidar com os media”.
O representante do
Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, Francisco de
Vasconcelos, sustenta que nunca se conseguirá alcançar a
independência que se reclama. A conjuntura económica existente –
com poucos grupos económicos e com a necessidade de obter lucro
– leva a que não haja uma real e estática independência.
A autonomia económica
dos órgãos de comunicação é uma mais valia para a sua própria
independência, sublinha Francisco de Vasconcelos. Este argumenta
ainda que “a pior coisa que podia acontecer aos governos, era
que a RTP passasse a dar lucro sistematicamente!”.
Para Jorge Lacão, do
Partido Socialista, “não faz sentido ter-se um serviço público
que permita formar uma opinião pública nacional se depois temos
um poder político que não garante a independência desse mesmo
serviço”. O representante do PS, de encontro à posição de Manso
Preto, e em virtude do processo judicial em que este jornalista
foi arguido e condenado, afirmou que o actual segredo de justiça
“deve ser revisto”. E que tal segredo só deve abranger quem
esteja em contacto directo com o processo. No entanto, a não
revelação de uma fonte jornalística não pode ser um camuflado
para atingir outras pessoas, declarou.
Pedro Marques, em
representação do Partido Social-Democrata, denuncia que “haverá
sempre poder político a tentar manipular para proveito próprio a
comunicação social”. E acrescentou que nos meios pequenos a
dependência dos media face ao poder político é maior. Os jornais
locais para sobreviverem recorrem muitas vezes às autarquias, o
que faz transparecer uma menor autonomia. |