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“As estratégias da TVI passam não pelo
sensacionalismo puro e duro, mas pelo impacto”. Estas foram as
palavras com que Júlio Magalhães, pivot da TVI, iniciou o quarto
painel do ’04 Encontro de Comunicação da Escola Superior de
Tecnologia de Abrantes, subordinado ao tema “Sensacionalismo:
uma tendência para o futuro?”.
O jornalista da TVI assume que a sua estação “é a mais
sensacionalista de Portugal”, salientando que esta realidade tem
a ver com uma estratégia televisiva para estar mais próximo das
pessoas. Saúde e sociedade são os temas que mais prendem os
telespectadores, sublinhou. A título de exemplo, Júlio Magalhães
lembrou que enquanto as outras estações de televisão tratam da
questão do desemprego mostrando as estatísticas, a TVI apresenta
casos reais de famílias nessa situação.
Para Júlio Magalhães, em matérias de sensacionalismo, a diferença
reside muito mais nos jornalistas do que nos órgãos de
comunicação. Segundo este jornalista, a ética e a deontologia,
hoje em dia, são feitas pelas pessoas que trabalham nas
redacções.
Quanto ao futuro da televisão, Júlio Magalhães defende que este
passará pela segmentação de canais, o que permitirá ao público
dominar a televisão e seleccionar a informação pretendida.
Miguel Gaspar, editor da secção de Media do Diário de Notícias (DN),
recorreu à definição de sensacionalismo de Fernando Cascais, que
o caracteriza como “a forma distorcida do tratamento dos dados
jornalísticos”. O jornalista do DN acrescenta que o
sensacionalismo é a forma mais fácil de aproximação ao público:
“Muitas vezes chega-se às pessoas com assuntos espectaculares e
divertidos ocultando-se assuntos importantes do quotidiano,
coisas importantes para a nossa vida do ponto de vista prático”.
Directo e Tempo
Real
Miguel Gaspar realçou ainda a importância de dois factores
inerentes ao jornalismo televisivo: o directo e o tempo real. Se
por um lado esta é uma forma de aproximação, por outro pode dar
mais ênfase ao acontecimento do que na realidade tem.
No que concerne à Internet, Miguel Gaspar caracteriza este meio de
comunicação como uma forma de divulgação de notícias, sejam elas
públicas ou privadas, de forma livre, sem qualquer controlo.
Em Portugal há “um estranho puritanismo” e censura no que respeita
à publicação de fotografias com violência. Para além de defender
esta ideia, Duarte Mexia, editor da revista Fotochoque, frisou
que “apenas 5% das fotografias mundiais são publicadas no país”.
Este jornalista considera que a autenticidade, o bom gosto e a
forma como se fazem as coisas é que determinam se há ou não
sensacionalismo numa peça jornalística.
Para Mexia, a fotografia serve como “um ponto de indignação e de
elucidação da realidade” e dá exemplos de casos como a guerra do
Vietname, que só acabou após a publicação de fotografias
relativas a esta no Washington Post. Este editor rematou a sua
intervenção considerando que em Portugal “não há sensacionalismo
por aí além”.
Octávio Ribeiro, sub-director do Correio da Manhã, defende que “o
sensacionalismo acontece quando o título ou o corpo da notícia
vai para além da realidade”. Contudo, argumenta que a
inquietação só se consegue com o impacto dos sentimentos e das
emoções. Em jeito de conclusão, remata dizendo que o respeito
pelos factos e a hierarquização são fundamentais para uma
informação credível. |