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CM Abrantes
 

Sol, “um jornal que vale por si”

“Tenho a noção de que um jornal se constrói com ideias fortes. Essa relação de verdade com os leitores, a prazo, é percepcionada positivamente”. José António Saraiva, director do Sol, defendeu esta ideia no âmbito do ’06 Encontro de Comunicação da ESTA. No painel intitulado “Semanários portugueses: concorrência ou diferenciação”, o orador assumiu que, passados seis meses de vida do Sol, falhou o seu objectivo em termos de vendas, mas adiantou que “esse falhanço tem a ver com o mercado, que está extremamente agressivo”.

José António Saraiva continua optimista em relação ao seu projecto chamado Sol, apesar de todas as contrariedades e mudanças do mercado que possam afectar o seu sucesso. E acrescenta: “Somos um animal em defesa na selva. Os outros dão cd’s, dvd’s, moedas, tudo. E nós não damos nada”. Ou seja, na sua opinião, o Sol é “um jornal que vale por si, à custa do que é o seu negócio: fazer notícias, reportagem, opinião, etc”. O que nem sempre é fácil e, às vezes, é até “ingrato”, tendo em conta os meios que as outras publicações utilizam. Em relação às estratégias adoptadas para vender jornais, José António Saraiva é peremptório: “Acho que os jornais estão a fazer um suicídio colectivo porque os brindes custam muito dinheiro. Quando os brindes acabarem, a tiragem cai a pique. Tem-se visto isso em todo o mundo, e os jornais ficam completamente vulneráveis.”

O director do Sol – que foi também, durante largos anos, director do Expresso – defende que “há espaço para semanários”, mas duvida que “haja espaço para diários pagos”. Na sua opinião, “um semanário bem feito, que acrescente informação, mas que também tenha um carácter lúdico, tem espaço”. Já em relação à sobrevivência dos diários pagos, José António Saraiva tem muitas dúvidas, sobretudo quando enquadra o fenómeno: o facto de saírem aos dias da semana, a concorrência dos jornais gratuitos, a existência de rádios com bons noticiários e de canais televisivos dedicados à informação.

Quanto à comparação (inevitável) com o Expresso, José António Saraiva posiciona o Sol de forma clara: “Mais pequeno, mais jovem, mais alegre e menos institucional”. De uma forma simples, o novo semanário é também “um cruzamento de duas influências: um grafismo próximo dos tablóides e um conteúdo próximo dos jornais de referência”. Para além do rigor da informação e da clara aposta na investigação, o Sol pretende ser um semanário que marca a diferença. Exemplo disso é a criação de algumas secções que já constituem marcas dentro da própria marca Sol, como são os casos da “Entrevista Imprevista”, dos “Portugueses lá fora”, “Estrangeiros cá dentro” e “Conversas na prisão”. Por outro lado, todas as semanas o jornal tem uma secção que valoriza os trabalhos de pessoas e instituições “feitos na sombra e que não são reconhecidos”.

Questionado por uma assistência interessada, José António Saraiva respondeu a todas as perguntas, mesmo às que pudessem parecer mais incómodas. Quanto a eventuais inclinações políticas, admitiu que o Sol seja visto pelos leitores como um jornal “mais de direita”, provavelmente pelo facto de o Expresso ser visto como “mais à esquerda”. Mas o director do Sol frisou que não há a intenção de assumir posições nesse campo: “A característica do Sol é ser um projecto jornalístico. É errado ligar um jornal a um projecto político porque isso assumiria desconfiança. O mercado português não tem dimensão para um jornal assumir um posicionamento político porque isso era segmentar ainda mais o público.”

Apostas diferentes

José António Saraiva idealizou criar um jornal “com a agressividade do Independente e a credibilidade do Expresso”, um jornal leve, jovem, familiar, dinâmico, livre, generalista e não sectarizado como os existentes. Para tal, conta com uma equipa extremamente jovem, mas também com alguns nomes já consagrados do jornalismo português, alguns deles que também trocaram o Expresso por este projecto ambicioso.

O caderno principal do Sol é bastante abrangente, surpreendente e original, na opinião do director, uma vez que nele se pode encontrar secções nunca antes vistas em jornais, como é o caso da rubrica "Conversas na Prisão", onde se dá a voz a alguns reclusos. Ao folhear-se o jornal verifica-se a transversalidade do mesmo. O Sol encontra-se dividido em quatro partes identificadas por quatro cores distintas, com conteúdos distintos. A parte rosa/verde, por exemplo, constitui uma novidade: é o campo “mais feminino”, que tradicionalmente está nas revistas, e que funciona como intervalo de leitura do próprio jornal. Outro aspecto destacado por José António Saraiva é o tratamento dado à cultura, que, na sua opinião, não tem necessariamente de ser aborrecida. Por isso, a equipa do Sol propõe uma abordagem “mais sintética, mais incisiva, mais actual e, ao mesmo tempo, alegre”. Para além do primeiro caderno, o Sol inclui o caderno de economia, designado Confidencial, onde se insere o imobiliário e os classificados, áreas que o arquitecto considera fundamentais para a sobrevivência de um jornal.

O semanário disponibiliza duas revistas, a Tabu e a Essencial. A Tabu é uma revista que procura estar em cima da actualidade, ou seja, “ter nervo jornalístico e tratar os assuntos com imaginação”. Nela se destacam as grandes entrevistas e as grandes reportagens, assim como os mais variados assuntos, entre eles, uma rubrica sobre famílias numerosas e a secção onde se apresenta a casa de uma figura pública.

A Essencial é um guia de sugestões de lazer. Traz um roteiro do que de
melhor vai acontecer no cinema, dança, teatro, exposições que se realizam e
um guia televisivo.

Valter Marques

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